A curadora Lara Koseff traz-nos de Joanesburgo uma seleção de vídeos da autoria de artistas Africanos, promissores e consagrados.
Nas ruas de Joanesburgo, em postes elétricos e paredes afixam-se cartazes onde se lê simplesmente "Lost Lover" (Amor Perdido) em letras garrafais a vermelho ou azul. São estranhamente belos por causa da sua simplicidade, mas também pela complexidade das histórias que evocam. Os anúncios com este par de palavras, são mais raros e menos óbvios do que os cartazes similares que oferecem serviços de aborto, aumento de pénis, ou resolução de dívidas, e assim deixam um rasto de poesia pelas ruas da cidade agreste.
Sugerem que entre as nossas necessidades primárias vive o desejo do regresso a um amor em tempos perdido ou roubado. Falam-nos também, numa voz simples, daquilo que nos torna humanos, desse desejo por uma realidade diferente.
LOST LOVER inicialmente apresentado no Rio de Janeiro, no espaço alternativo Lanchonete<>Lanchonete, é um programa de vídeo que explora esta alegoria de desejo, de uma nova realidade, seja romântica, política ou social. A primeira projeção ocorreu no exterior deste espaço, que fica num velho café em Gamboa, uma zona da cidade onde chegavam escravos de África, e que muitos anos depois, na história mais recente foi brutalmente gentrificada para acolher os visitantes de grandes eventos desportivos. Aconteceu no lugar onde seres humanos foram brutalmente transacionados e oprimidos, e os seus descendentes, são agora marginalizados e ignorados em benefício de turistas e grupos endinheirados. Foi apresentado a estas comunidades um programa de imagens, música e luz, que aclarou várias vertentes deste sentimento, evocando realidades entretanto perdidas, do lado de lá do mar, e aflorando a necessidade de novas rotas de afirmação.
A exposição emerge num novo território, num contexto diferente, mas historicamente ligado: Portugal, o país que teve um papel central no tráfico de escravos do Atlântico, e que mantem uma ligação complexa e bifurcada com o Brasil e com África. Rampa é um novo espaço alternativo situado no Pátio do Bolhão, um recanto obscuro na baixa do Porto. Herdando o nome da longa rampa que dá acesso a um armazém em meia cave, o espaço Rampa tem como missão a revisitar das ligações da cidade ao exterior, encontrando e reclamando novas formas de ligação entre o Porto e outras cidades
Em paralelo ao programa original, apresentamos uma instalação independente de Grada Kilomba intitulada Illusions Vol. II, Oedipus, (2018). Encomendado pela décima Bienal de Berlim é a segundo capítulo da série Illusions, em que Kilomba regride no tempo para re-visitar a mitologia Grega usando a tradição oral africana de contar histórias. Sobre Illusions Vol. II, Oedipus Thulile Gamedze escreve: Kilomba extende e adensa a trajetória da série Illusions - iniciada em 2016 com a história de Narciso e Eco – apresentado agora um novo momento dedicado ao mito de Édipo. Aqui se exploram as tensões fatais entre pai e filho, destinadas à tragédia. Usando filme e música combinados com a tradição oral de contar histórias, Kilomba trabalha os tópicos da lealdade e das políticas de violência para analisar o papel do destino nas vidas dos que se encontrar presos num sistema que reproduz e torna cíclica a opressão.