cutting Glass wreaths è uma exposição individual de Marcelo Reis com curadoria de Vera Carmo.
O filósofo Frédéric Neyrat esteve recentemente em Lisboa para uma conferência durante a qual assinalou, com alguma preocupação, um fenómeno novo na história da humanidade: pela primeira vez, a comunicação entre máquinas ultrapassou a comunicação entre seres humanos. Notou que – para além do aumento de comunicação mediada por interfaces –, mesmo num encontro cara a cara, há um qualquer dispositivo próximo que recolhe dados e alimenta instantaneamente os algoritmos que, por sua vez, irão ditar o acesso aos conteúdos em linha. O resultado é um “efeito bolha”: determinados temas e perspectivas surgem replicados, enquanto
outros desaparecem. Em suma, cada qual vê a sua mundivisão, os seus medos e preocupações continuamente reiterados.
cutting Glass wreaths tem origem numa reflexão complementar das ideias de Neyrat: a iliteracia digital; ou seja, a incapacidade de compreender realmente como se processam as sucessivas codificações que constituem o “novo real”. As obras em exposição ensaiam uma interrupção no fluxo de encriptações, apresentando uma materialização do algoritmo, mas não permitindo aceder ao texto inicial, escrito num idioma inteligível. Porém, o título da exposição assume-se como uma pista: as três palavras estão algures ali. O público é, pois, encorajado a participar num “cadáver esquisito”, mas a informação de facto escapa. A realidade escapa. Cada qual permanece sozinho a cada tentativa de interpretação. É a experiência máxima da subjetividade, que resulta no alheamento.